Caminhar na Natureza Previne a Depressão



Um estudo constata que ambientes selvagens aumentam o bem-estar, reduzindo pensamentos obsessivos e negativos.

Por Olga Khazan

“Quando caminhamos, vamos naturalmente para campos e bosques: o que seria de nós se caminhássemos apenas em jardins ou shoppings?” escreveu Henry David Thoreau em The Atlantic em 1862.

Thoreau exaltou (e exaltou e exaltou – o texto tinha mais de 12.000 palavras) as virtudes de caminhar em ambientes selvagens. Nas décadas desde então, os psicólogos provaram que ele estava certo. A exposição à natureza tem demonstrado repetidamente que reduz o estresse e aumenta o bem-estar.

Mas os cientistas não sabem ao certo o porquê. Teria a ver com o ar? O brilho do sol? Algum tipo de inclinação para o verdor?

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford achou que o efeito natureza poderia ter algo a ver com redução da ruminação, ou como eles descrevem, “um padrão desadaptativo de pensamento autorreferencial associado ao aumento do risco de depressão e outras doenças mentais”. Ruminação é o que acontece quando você fica realmente triste e não consegue parar de pensar em sua melancolia e no que a está causando: um rompimento, uma demissão, aquele comentário mordaz. A ruminação aparece, em uma região do cérebro chamada córtex pré-frontal subgenual, como atividade aumentada em uma banda estreita na parte inferior do cérebro que regula as emoções negativas. Se a ruminação continuar por muito tempo, uma depressão pode ser desencadeada.

Para um estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, os cientistas de Stanford examinaram se um passeio pela natureza poderia reduzir a ruminação em 38 pessoas mentalmente saudáveis. Eles escolheram moradores da cidade porque, segundo os pesquisadores, teriam “um nível um pouco elevado de ruminação resultante dos estressores contínuos e crônicos associados à experiência urbana”. Como em “Cristo Todo-Poderoso, esta é a escada rolante do metrô ou a estrada de gelo para Stalingrado? Sigam em frente, pessoal!

Após alguns testes preliminares, metade dos participantes andou por 90 minutos através de uma pastagem pontilhada por carvalhos e arbustos (“as vistas incluem, colinas cênicas e vistas distantes vizinhas da Baía de São Francisco”). A outra metade deu uma volta ao longo do El Camino Real, uma rua com quatro faixas de tráfego em Palo Alto. Os caminhantes da natureza mostraram diminuição na ruminação e na atividade em seus córtices pré-frontais subgenuais. Os caminhantes urbanos não mostraram tais melhorias.

Em geral, as reduções na ruminação estão ligadas às chamadas “distrações positivas”, como praticar um hobby ou desfrutar de uma longa conversa com um amigo. Você pensaria que caminhar na natureza contínua não proporcionaria muitas diversões de uma série de pensamentos sombrios. Surpreendentemente, o oposto parecia verdadeiro: ambientes naturais são mais restauradores, escrevem os autores, e, portanto, conferem maiores benefícios psicológicos.

Esse efeito deveria funcionar com muitos tipos de paisagens naturais, particularmente aquelas que geram “fascínio suave”, “senso de pertencimento” e “sensação de estar longe”, observam os pesquisadores. Assim, enquanto o seu quintal pode funcionar, os pequenos parques de calçada que surgiram nos cruzamentos de Manhattan podem não funcionar.

Em parte por causa de estudos como esse, arquitetos e designers estão cada vez mais levando em conta o espaço verde em seus planos de projeto. Mas isso pode se tornar mais difícil de realizar: mais da metade da população mundial vive em cidades atualmente e, em 2050, cerca de 70% viverão.

Essa é outra coisa que Thoreau nos alertou:

“Hoje em dia quase todas as assim chamadas melhorias do homem, como a construção de casas e o corte das florestas e de todas as grandes árvores, simplesmente deformam a paisagem e a tornam cada vez mais mansa e barata.”

 

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Tradução: Lia Beatriz Fleck

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