Os Efeitos do Diagnóstico de Saúde Mental

Geralmente os diagnósticos de doenças mentais são feitos usando-se os critérios do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5).1

O DSM não é uma unanimidade como alguns pensam. As criticas quanto a validade cientifica dos diagnósticos não vem de hoje, são feitas desde a criação do primeiro manual. Alguns acham os diagnósticos incorretos outros excessivos, argumentando que grupos de pessoas podem ser rotuladas com um transtorno simplesmente por seu comportamento não estar alinhado com o considerado "ideal" na atualidade.

Viu-se ao longo da historia que o DSM se pauta em valores culturais para medicalizar comportamentos como a homossexualidade que, em suas primeiras versões, era tida como transtorno e, ao longo do tempo, deixou de ser uma doença que necessita tratamento. Na atual edição é o tabagismo, o transtorno da vez. Algumas categorias diagnósticas propostas pelo DSM-5, fortalecem o movimento de medicalização da existência. E os principais desencadeadores dessa medicalização é o fato de que o DSM não tem um uso exclusivamente clínico. Um aumento exacerbado nas vendas de medicamentos psiquiátricos no Brasil é um grande indicador desse movimento de medicalização da existência.2

Embora os distúrbios de saúde mental não sejam vistos sob a mesma luz negativa de antes, distúrbios específicos podem ser percebidos como rótulos. Alguns terapeutas tomam esse cuidado e evitam rotular seus clientes, embora o cliente as vezes necessite do diagnóstico para apresentar a seu plano de saúde.

Um estudo O efeito do diagnóstico psiquiátrico sobre a identidade do paciente, publicado no Portal Metodista de Periodicos Científicos e Acadêmicos teve como objetivo identificar como o diagnóstico psiquiátrico interfere na constituição da identidade do usuário do Centro de Atenção Psicossocial de uma região do sul do Brasil.

Verificou-se que o diagnóstico produz estigma, a partir da atribuição do diagnóstico os portadores de transtorno mental passam a ser identificados como diferentes, perigosos, desqualificados além de outras características atribuídas aos que possuem um diagnóstico psiquiátrico. Foi também possível perceber que além de ser estigmatizado, o portador de transtorno mental apropria-se do seu diagnóstico identificando-se com o mesmo e com as características que a estes são atribuídos. (...) Conclui-se se que o diagnóstico psiquiátrico produz estigma e preconceito, além de trazer outras decorrências negativas e muitas vezes irreversíveis a vida daqueles que recebem um diagnóstico psiquiátrico. Desta forma, o diagnóstico pode acarretar muito mais prejuízos do que benefícios, por isso é preciso refletir sobre o mesmo, considerando as consequências que este pode produzir, e aí sim pensar se este é realmente importante.2

O perigo de colocar um rótulo em um paciente é sutil, mas potente e pode aumentar a probabilidade de se identificar com o diagnóstico, o que aumenta a probabilidade de ficar em casa em vez de socializar, dá permissão para evitar a atividade física, fazendo com que ganhe peso em vez de praticar seu regime habitual de exercícios. Se o paciente ao ouvir que tem um diagnostico, que está deprimido, as palavras têm um poder inerente que pode determinar sua atitude e, potencialmente impedi-lo de ver os aspectos que o diferem do rótulo. Ser rotulado com qualquer categoria de diagnóstico psicológico é algo que pode transmitir um sentimento negativo pois o diagnóstico tem poder e pode passar uma mensagem subliminar.

Talvez o maior problema com os diagnósticos seja quando uma patologia de reações emocionais leva a medicações.

(...)As terapias de fala de vários tipos, incluindo psicologia energética orientada para o insight, cognitivo-comportamental (...), visualizações de resolução de conflitos (...), todos têm fortes antecedentes de ajudar as pessoas a aliviar a nuvem negra da depressão. Eles ajudam abordando os problemas da vida que provocam o estado emocional negativo.

Infelizmente, embora a maioria das pessoas que sofre de um estado emocional deprimido pergunte ao seu médico, e não ao profissional de psicoterapia, o que fazer. Para um homem com um martelo, como diz o ditado, o mundo é um prego. Os médicos dão pílulas.

A dependência de drogas significa que, ao tentar parar de tomar o medicamento abruptamente, (...) a pessoa pode desencadear um grave episódio depressivo. Não percebendo que o culpado era a droga, não uma depressão oculta que a droga estava impedindo, a pessoa se sente tolhida a tomar o medicamento para sempre. As empresas farmacêuticas se beneficiam, em detrimento de uma pessoa que foi erroneamente rotulada como tendo uma depressão subjacente ao longo da vida.3

Texto: Lia Beatriz Fleck

Fontes:

  1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.
  2. SILVA, Roberta Scheer; BRANDALISE, Fernando. O efeito do diagnóstico psiquiátrico sobre a identidade do paciente. Portal Metodista de Periódicos Científicos e Acadêmicos. [S.I.]. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MUD/article/view/1143> Acesso em: 20 maio 2020.
  3. RESENDE, Marina Silveira; PONTES Samira; CALAZANS, Roberto. O DSM-5 e suas implicações no processo de medicalização da existência. Psicologia em Revista vol.21 no.3 Belo Horizonte set. 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682015000300008#ast1a>  Acesso em: 20 maio 2020.

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