A Psiquiatria Nutricional é o Futuro do Tratamento de Saúde Mental

 

A psiquiatria nutricional é uma disciplina que está crescendo, ela foca no uso de alimentos e suplementos para fornecer esses nutrientes essenciais como parte de um tratamento integrado ou alternativo para transtornos da saúde mental.

Texto de Joyce Cavaye, publicado em The Conversation

Sabe-se que a falta de nutrientes essenciais contribui para o aparecimento de problemas de saúde mental em pessoas que sofrem de ansiedade e depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e TDAH. A psiquiatria nutricional é uma disciplina que está crescendo, ela foca no uso de alimentos e suplementos para fornecer esses nutrientes essenciais como parte de um tratamento integrado ou alternativo para transtornos da saúde mental.Mas abordagens nutricionais para essas condições debilitantes não são amplamente aceitas pela medicina convencional. As opções de tratamento tendem a ser limitadas às diretrizes oficiais do National Institute for Care Excellence (NICE), que recomendam terapias de fala e antidepressivos.

Uso de Antidepressivos

O uso de antidepressivos mais que dobrou nos últimos anos. Na Inglaterra, foram feitas 64,7 milhões de prescrições de antidepressivos em 2016 a um custo de 266,6 milhões de libras. Isso representa um aumento de 3,7 milhões no número de itens prescritos em 2015 e mais que o dobro dos 31 milhões emitidos em 2006.

Um estudo recente da Universidade de Oxford descobriu que os antidepressivos eram mais eficazes no tratamento da depressão do que o placebo. O estudo foi conduzido pela Dra. Andrea Cipriani, que afirmou que a depressão está sub tratamento. Cipriani sustenta que os antidepressivos são eficazes e mais 1 milhão de prescrições deveriam ser emitidas no Reino Unido.

Essa abordagem sugere que uma saúde mental precária, causada por condições sociais é vista como facilmente tratada simplesmente administrando drogas. Mas os antidepressivos são evitados por pessoas que poderiam ser ajudadas por causa do estigma social associado à doença mental, que leva à discriminação e exclusão.

Mais preocupante é o aumento do uso de antidepressivos por crianças e jovens. Na Escócia, 5.572 crianças menores de 18 anos receberam prescrição de antidepressivos para ansiedade e depressão em 2016. Esse número mais que dobrou desde 2009/2010.

Mas, de acordo com o psicofarmacologista britânico Professor David Healy, 29 ensaios clínicos sobre o uso de antidepressivos em jovens não encontraram nenhum benefício. Esses testes revelaram que, em vez de aliviar os sintomas de ansiedade e depressão, os antidepressivos fizeram com que crianças e jovens se sentissem suicidas.Healy também desafia sua segurança e eficácia em adultos. Ele acredita que os antidepressivos são prescritos em excesso e que existem poucas evidências de que sejam seguros para uso a longo prazo. Os antidepressivos são mencionados por criarem dependência, ter efeitos colaterais desagradáveis e não são confiáveis para sempre aliviar os sintomas.

Nutrição e saúde mental precária

Em países desenvolvidos, como o Reino Unido, as pessoas comem mais  variedade de alimentos do que nunca – mas isso não significa que estejam bem nutridas. De fato, muitas pessoas não comem suficiente aqueles nutrientes que são essenciais para a boa saúde do cérebro, optando por uma dieta de alimentos altamente processados contendo aditivos artificiais e açúcar.

A ligação entre problemas de saúde mental e deficiências nutricionais é reconhecida há muito tempo por nutricionistas que trabalham no setor de saúde complementar. No entanto, os psiquiatras só agora estão se conscientizando mais dos benefícios do uso de abordagens nutricionais para a saúde mental, pedindo a seus colegas que apoiem e pesquisem esse novo campo de tratamento.

Sabe-se agora que muitas condições de saúde mental são causadas por inflamação no cérebro, que acaba causando a morte das células cerebrais. Essa resposta inflamatória começa no intestino e está associada à falta de nutrientes em nossos alimentos, como magnésio, ácidos graxos ômega-3, probióticos, vitaminas e minerais, que são essenciais para o funcionamento ideal de nosso corpo.

Pesquisas recentes mostraram que suplementos alimentares como zinco, magnésio, ômega 3 e vitaminas B e D3 podem ajudar a melhorar o humor, aliviar a ansiedade e a depressão e melhorar a capacidade mental das pessoas com Alzheimer.

O magnésio é um dos minerais mais importantes para a saúde ideal, mas muitas pessoas estão com falta dele. Um estudo descobriu que um suplemento diário de citrato de magnésio levou a uma melhora significativa na depressão e ansiedade, independentemente de idade, sexo ou gravidade da depressão. A melhora alcançada não continuou quando o suplemento foi interrompido.

Os ácidos graxos ômega-3 são outro nutriente crítico para o desenvolvimento e a função do sistema nervoso central – e a falta tem sido associada a humor baixo, declínio cognitivo e baixa compreensão.

O papel dos probióticos – as bactérias vivas benéficas do sistema digestivo – também foi explorado por psiquiatras e nutricionistas na melhoria da saúde mental, e eles descobriram que tomá-los diariamente estava associado a uma redução significativa na depressão e ansiedade. O complexo de vitamina B e o zinco são outros suplementos que se descobriu reduzem os sintomas de ansiedade e depressão.

Esperança para o futuro

Esses suplementos, vendidos sem receita médica, estão amplamente disponíveis em supermercados, farmácias e lojas de produtos naturais, embora o custo e a qualidade possam variar. Para pessoas que não responderam a medicamentos prescritos ou que não toleram os efeitos colaterais, a intervenção nutricional pode oferecer esperança para o futuro.

Atualmente, há muito debate sobre a eficácia dos antidepressivos. O uso de suplementos alimentares oferece uma abordagem alternativa com potencial para fazer uma diferença significativa na saúde mental de todas as faixas etárias.

As evidências científicas emergentes sugerem que deve haver um papel maior da psiquiatria nutricional na saúde mental nos serviços de saúde convencionais. Se o o ônus da saúde mental é para ser reduzido, os clínicos gerais e psiquiatras precisam estar cientes da conexão entre alimento, inflamação e doença mental.

A educação médica tem tradicionalmente excluído o conhecimento nutricional e sua associação com a doença. Isso levou a uma situação em que muito poucos médicos no Reino Unido têm um entendimento adequado da importância da nutrição. Pensa-se que as intervenções nutricionais têm poucas evidências para apoiar seu uso na prevenção ou manutenção do bem-estar e, portanto, é deixado para os nutricionistas , e não os médicos, esse aconselhamento.

Mas, à medida que as evidências aumentam, é hora da educação médica levar a nutrição a sério, para que os médicos e psiquiatras do futuro saibam tanto sobre seu papel na boa saúde quanto sobre anatomia e fisiologia. O estado de nossa saúde mental pode depender disso.

Leia o artigo original aqui

Tradução: Lia Beatriz Fleck

A autora, Joyce Cavaye, é professora Sênior em Saúde, Bem-Estar e Assistência Social, na The Open University.

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