Autocompaixão

Alguma vez você já se chamou de “idiota” por algo que fez? A maioria de nós já. Sem ter autocompaixão podemos facilmente ser mais críticos e duros, do que bondosos com nós mesmos.

Ter uma boa autoestima tem sua importância bastante exaltada, mas pouco é dito sobre a autocompaixão. Segundo estudos, tanto a autocompaixão como a autoestima elevada estão associadas a menos depressão, ansiedade e estresse, e a mais felicidade.

A autocompaixão, porém, não se associa a alguns problemas que pessoas com autoestima elevada podem apresentar – como o narcisismo – e parece ser um indicador mais robusto de bem-estar. Ter baixa autoestima é problemático, mas muita autoestima pode levar a alguns comportamentos indesejáveis.

O pesquisador e professor de psicologia da Universidade da Georgia (EUA), Michael Kernis, constatou que ter autoestima elevada não é garantia de saúde psicológica. As vezes, pessoas com muita autoestima se tornam egoístas – só enxergam o próprio umbigo e não se importam com os outros. Outras adotam ares de superioridade ou provocam discussões violentas se suas crenças são ameaçadas. Esses indivíduos tem, é provavel, bastante autoestima, entretanto precisam compensar sua insegurança e fragilidade psicológicas impondo seu ponto de vista. As consequências da autoestima elevada, nesses casos, são negativas, no âmbito pessoal e social.

Por outro lado, as pessoas que tem autocompaixão desenvolvida tem uma imagem positiva de si mesmas, mas não se julgam especiais nem melhores do que os outros. A força motriz da autocompaixão é ter motivação para incentivar a si próprio a ser uma pessoa melhor.

A autocompaixão não depende de coisas como sucesso, desempenho ou ser atraente. Nos serve tanto quando somos bem sucedidos quanto quando falhamos pois, se assim for, juntamos os cacos e tentamos novamente. Fracassar pode ser um aprendizado e não significa que quem fracassa seja um fracassado, significa que falhou, desta vez, mas da próxima vez terá sucesso. 

Para entender melhor como é ter autocompaixão, pense em alguém que ama incondicionalmente, uma criança, um animal. Você consegue pensar em um momento em que esse ser estava ferido e lembrar o que sentiu, o que fez? Talvez tenha lhe dado conforto com um abraço – isto é compaixão. A autocompaixão é nos tratarmos da mesma forma, dando apoio a nós mesmos em qualquer situação.

Podemos aprender a ter autocompaixão desenvolvendo a habilidade da atenção plena, que é a capacidade de perceber o que se sente e experimenta no momento presente. De forma não julgadora, ficamos cientes de nossas sensações, sem menosprezar nem exagerar nossos sentimentos.

Nossa reação natural é tentar suprimir as experiências desagradáveis, não aceitando o que está acontecendo. Ao aceitar o fato como ele é, conscientes de que estamos passando por momentos difíceis, enxergamos as coisas como são e nosso coração pode se abrir e responder com autocompaixão.

Em modo de autocompaixão nós nos tratamos com carinho nos momentos difíceis, em oposição a nos julgarmos duramente dizendo coisas cruéis, coisas que nunca diríamos a ninguém. Nós nos apoiamos, assim como faríamos com um bom amigo.

Podemos colocar as mãos sobre o coração com a intenção de nos confortar – isto é um ato de autocompaixão. Esta prática reconfortante pode parecer esquisita e até falsa, especialmente se estamos habituados a nos criticar. Mas esta ação pode produzir a liberação da oxitocina, um hormônio que traz bem-estar.

Com o tempo fica mais fácil e, em vez de nos punir quando falhamos, usando a autocompaixão escolhemos nos apoiar nas horas boas e também nos momentos difíceis

Por Lia Beatriz Fleck

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