Bom o suficiente

 

Muitas vezes, estamos determinamos a realizar várias coisas, ou a fazer algumas mudanças visando melhorar nossa vida.

É importante, no entanto, avaliar se o que queremos mudar não é por condicionamentos que assimilamos durante a vida e que interferem na percepção daquilo que somos e do que queremos.

 

Vivemos numa sociedade que despreza coisas negativas como o fracasso, que descarta que o caminho do aprendizado passa por adversidades. Essa mesma sociedade quer nos impingir como padrão de beleza a perfeição inatingível estampada nas capas das revistas. Muitos se sentem vulneráveis por não possuir uma aparência tão maravilhosa.

É muito difícil cultivar a auto-apreciação por sermos culturalmente influenciados a nos fixar no que não temos, não apreciando o que já alcançamos. Como a oferta de bens de consumo nunca foi tão grande, podemos ter a sensação de nunca ter o bastante, não importando quantas coisas belas e bem sucedidas há em nossa vida.

É provável que, por tudo isso, caminhamos para ser a civilização mais obesa, endividada, viciada e medicada de todos os tempos.

A pesquisadora americana Brene Brown descobriu que as pessoas que se permitem ser vulneráveis, tem a coragem de viver na imperfeição. Aceitam que são suficientes como são e não se apegam a noções preconcebidas de como deveriam ser. Essas pessoas pensam “eu sou boa o suficiente” e não se sentem diminuídas por não possuirem determinadas coisas ou qualidades.

Como somos seres programados para fazer conexão uns com os outros, se temos vergonha de algo em nós, nos sentimos inibidos, sentimos medo do julgamento que pode resultar ao expor o que é considerado negativo.

A vergonha germina no perfeccionismo, que impulsiona a tendência para que alguém ache “eu não sou bom o suficiente”. Então, se não nos sentimos aceitos como somos, temos que mudar, para nos encaixar, e muitas vezes orbitamos ao redor de pessoas que não tem nada a ver conosco.

O perfeccionismo só nos atrapalha, realmente, pois ao não conseguir abraçar nossas imperfeições e vulnerabilidades, muitas vezes tentamos entorpece-las. Beber umas cervejas ou se entupir de doces não resolve nada. Entorpecer emoções é impossível!

As conexões nascem quando nos sentimos à vontade em trocar confidencias ou pedir conselhos. Se estamos sempre emanando perfeição nunca abrimos a torneira da cumplicidade. O interessante é que, ao expor o que sentimos vergonha, muitas vezes, descobrimos que os outros passam por situações parecidas.

Para que a conexão aconteça, temos de nos permitir sermos vistos como somos, com qualidades e imperfeições. Silenciando nosso crítico interno super-negativo e exigente, sendo autênticos e compassivos com nós mesmos podemos sair da prisão do “o que as pessoas vão pensar?”

Nutrindo nossa alma com “eu sou bom o suficiente”, praticando a gratidão pelo que já temos agora e apreciando a pessoa que somos, atrairemos mais alegria e abundância para nossa vida.

 

Por Lia Beatriz Fleck

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