Cuidando da Saúde Mental

Por Lia Beatriz Fleck

Um crescente corpo de pesquisas está fornecendo evidências de que a meditação é uma das melhores ferramentas para uma boa saúde mental. A prática regular ajuda a aliviar os sintomas de alguns distúrbios psicológicos, já tendo sido observado que reduz o estresse, a ansiedade e a depressão.

Atualmente, é muito comum, as pessoas dizerem que estão deprimidas por tudo, desde uma simples contrariedade a uma profunda decepção. A depressão já é chamada de doença epidêmica, inclusive pela OMS, que atende, assim, aos interesses de indústrias nem sempre promotoras de saúde.

Para o modelo biomédico vigente, a depressão é uma doença com sintomas fisiológicos e patológicos, sendo que há décadas se especula, se é ou não, causada por desequilíbrios químicos no cérebro. Não há exames laboratoriais para confirmar se existe uma patologia real, assim o diagnóstico é subjetivo. O profissional de saúde aplica um questionário e, conforme as respostas, define se há uma doença.

É surpreendente, que esta forma de diagnosticar a depressão ainda seja aceita e amplamente usada, pois é baseada em uma teoria ultrapassada e que nunca teve comprovação cientifica.

Conforme o diagnóstico encontrado, são prescritos medicamentos para corrigir este suposto desequilíbrio cerebral. As drogas utilizadas não curam, muitas vezes até pioram a depressão, pois interferem no delicado e ainda bastante desconhecido mecanismo dos neurotransmissores do cérebro.

É comum que o paciente, assim diagnosticado, seja induzido a pensar que não há nada a fazer, além de tomar as medicações prescritas para mudar a suposta química “errada” do seu cérebro. Assim, as portas a outras possibilidades são fechadas e a causa emocional subjacente, que desencadeou a depressão, não é investigada. Em contrapartida, para os profissionais de saúde, com visão mais holística, alternativa ou integrativa, que não seguem o modelo biomédico, é importante buscar as emoções e sentimentos que estão por trás da causa do desequilíbrio emocional, para poder restabelecê-lo.

Qualquer um pode experimentar episódios depressivos em algum momento na vida. Os motivos podem ser extremamente graves, como a morte de familiares ou abusos e traumas diversos. Divórcio, indefinição profissional, também são motivações legítimas para desencadear a depressão. Sentimentos negativos, como de inferioridade ou outros, também causam frustração e tristeza. Todos estes dissabores fazem parte da vida, mas podem facilmente desequilibrar uma pessoa, fazê-la se sentir impotente, suscitar a negatividade e disparar gatilhos para a depressão.

As pessoas que conseguem lidar melhor com os sintomas de depressão são as que veem os desafios e dificuldades da vida como aprendizados. Aceitam que, ao longo da vida, várias dificuldades e frustrações acontecem e que não temos controle sobre elas. Elas têm a habilidade de sentir as emoções dolorosas, falam sobre elas e não fingem que não existem.

Aceitar o que não pode ser mudado é a chave de ouro para amenizar nossos sofrimentos.

Para melhorar e se curar, é importante que se busque entender na raiz, o fato ou fatos que desencadearam a depressão. Com uma combinação de terapia e o desenvolvimento de habilidades emocionais pode-se aprender a reformular os pensamentos negativos e a conhecer os gatilhos que desencadeiam o estado depressivo. Uma vez que se desenvolva estas habilidades, este estado irá sendo amenizado e as recaídas evitadas.

Existem várias modalidades de terapias e tratamentos disponíveis. Algumas buscam entender os problemas do passado, buscando sentimentos e eventos inconscientes e trabalhando com eles. Há também abordagens como o life coaching, em que os clientes não são vistos como pacientes. O objetivo não é tratar, e sim trabalhar as dificuldades, despertando as capacidades que a pessoa já tem para viver com mais qualidade de vida.

A meditação também pode ajudar na busca do entendimento da causa da depressão. Como não estamos cientes do diálogo interno constante e dos 60 a 80 mil pensamentos que se pensa em um só dia, por meio da meditação é possível observar, com atenção, os eventos da mente. Após um certo tempo de prática, a capacidade de observar os pensamentos é percebida. É porque a “testemunha silenciosa” despertou. Buscando trazer a mente sempre para o presente, se passa a notar quando ela está sendo inundada por ideias limitantes ou presa num labirinto de pensamentos negativos repetitivos. Com o tempo, é possível sair da prisão das divagações sobre o passado, que provocam raiva ou dor, ficando menos preocupados com o futuro, aliviando a geração de estresse.

Aos poucos a atenção plena da meditação será levada para a vida diária e, ao ficar mais atentos, é possível enxergar as reações acontecendo no momento presente, seja no trânsito, ao receber uma crítica ou ao entrar numa discussão. Observando objetivamente a situação, se nota que se é acionado por gatilhos e, ao identificar o que os disparam, nossa resposta poderá ser mais consciente. Em vez de reagir de maneira instintiva, respondemos com calma e atenção, dificultando que os gatilhos sejam acionados.

Quando meditamos, nos conectamos à nossa mais pura essência divina, que não está deprimida, nem ansiosa e nem traumatizada. Ao ficar em silêncio, vamos além da conversa barulhenta e sem sentido da mente. Somos transportados ao berço da felicidade, onde as emoções delicadas contrastam com o rugido caótico do nosso diálogo interno. Sem perceber, começamos a cultivar a equanimidade, a compaixão e a presença. Nossos pensamentos, ações e reações são infundidos com atenção consciente, muito além dos padrões condicionados habituais. Os efeitos emocionais são profundos!

Com algum tempo de prática regular de meditação deixamos de ver a vida como inimiga, ao contrário, sentimos que o universo conspira a nosso favor. Aprendemos a entrar no estado de “estar no fluxo”, isto é, estar no lugar, no momento e hora certos. O tempo parece parar e, em vez de lutar e tentar forçar as coisas, sabemos que tudo que precisamos virá naturalmente. Fazemos menos e realizamos mais. Nos conectamos com o campo de infinitas possibilidades ou pura potencialidade. Deixamos a vida seguir seu próprio rumo, agradecendo pelo que ela nos proporciona. Sentir gratidão nos ajuda a sentir maior satisfação e a continuar almejando coisas boas, independente de consegui-las ou não.

Neste estado superior de consciência, através da pacificação da mente, ficamos mais receptivos às intuições e o resultado é a apreciação profunda da divindade e da graça da existência.

Por Lia Beatriz Fleck

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